24.6.11

uma carta de desamor

Me desculpe por ter te escrito. Me desculpe por ter te ligado. Me desculpe por eu ter voz.
Me desculpe por eu mentir e me esconder de meus próprios amigos para ficar com você. Me desculpe por aceitar sair contigo e ficar doente por culpa daquela chuva. Me desculpe por eu ter voz.
Me desculpe por atender suas ligações de madrugada e acreditar em tudo que me dizia aos sussurros. Me desculpe por eu ter voz.
Me desculpe por rir e gostar de andar de mãos dadas com você. Me desculpe por todos os beijos, por sentir tanto carinho e desejo por você. Me desculpe por eu ter voz.
Me desculpe por eu não ter usado máscara. Me desculpe por desejar alguma intensidade. Me desculpe por desejar. Me desculpe por eu ter voz.
Me desculpe por ser amiga da sua nova namorada e me desculpe por não ser o que você quer.
Me desculpe por, em algum momento, eu ter te amado. Me desculpe por, em algum momento, eu ter te achado bonito. Me desculpe por, em algum momento, eu ter me achado bonita. Me desculpe por eu ter voz
Me desculpe por te colocar na parede e fazer você se decidir. Me desculpe por esperar por uma resposta mesmo que negativa de você. Me desculpe por confessar meus sentimentos e ter aparecido na sua vida. Me desculpe por eu ter voz.
Me desculpe por crer que você me escolheria e realmente realizaria todos os planos que dizia querer cumprir. Me desculpe por sonhar com esses planos. Me desculpe por eu ter voz.
Me desculpe pelo que foi ruim. Me desculpe pelo que foi bom. Me desculpe pelo atrevimento de supor que eu merecia o que de bom aconteceu. Me desculpe por eu ter voz.


Mas, sobretudo, me desculpe por pedir essas ridículas, inúteis e dolorosas desculpas. Que, naturalmente, não são para você, afinal, porcos não reconhecem pérolas.




(adaptado do texto de Stella Florence)
http://papeltinteiroedesatinos.wordpress.com/2011/06/23/uma-carta-de-desamor-stella-florence/

14.6.11


estou sentada em frente ao computador esperando uma luz, um sopro de inspiração. sentindo o cheiro de chuva no asfalto, sentindo aquele vento gostoso no rosto. de olhos fechados e sorriso estampado penso em como minha vida mudou. meus conceitos mudaram, meus gostos mudaram, meu amigos, meus amores.
coisas que antes me faziam chorar hoje me fazem rir, e coisas que me fazem bem às vezes me fazem sofrer um pouco.
quanto paradoxo, quantas dúvidas.
a chuva engrossa, eu acordo, mas a inspiração ainda não veio.
meus pensamentos estão nas minhas adoráveis e merecidas férias, e nos olhos claros dele.
espio por um minuto a televisão, que mostra uma matéria bizarra sobre coisas um tanto insignificantes. imploro pela inspiração, preciso escrever, preciso colocar pra fora o que sinto, transformar tudo em palavras que talvez agradem, ou não.
deito no chão do quarto, sentindo os pingos de chuva no rosto. o sorriso volta, e o pesamento vai até a infância, onde tudo era mais fácil. lembro do cheiro de bolo que vinha da cozinha quando minha mãe ainda estava aqui. lembro das cicatrizes no joelho e na cabeça pelo espírito moleque que tinha. a chuva leva meus pensamentos a lugares sem nexo, fantasias esquecidas...
mas não acho a inspiração pra poder dizer o que quero.
vejo as marcas na parede vermelha. sorrio, só eu mesmo pra implorar para minha mãe deixar eu pintar as minhas paredes de vermelho e preto. desde sempre tão teimosa...
dou uma olhada no meu download, ainda lento... e ele também não contribui para eu ter um insight e começar a escrever.
ainda deitada coloco minha mais nova descoberta pra tocar.
ouvindo "the drums" talvez eu comece a escrever alguma coisa que interesse à alguém.
fecho os olhos de novo, cantando o refrão... "don't be a jerk, johnny. don't be so cruel to me..."
a chuva molha meu cabelo e se espalha pelo chão, mas eu não ligo... o frescor leva meus pensamentos ruins e tras somente aqueles que eu quero ter. de repente adormeço e o som continua ligado. o computador descarrega e a tão esperada inspiração não veio.
eu não escrevi nada. mas disse tudo.