
O tempo passou, e eu mudei.
Não somente a minha aparência agora é apática, mas existe um buraco onde meu coração deveria existir. As palavras antes ditas com emoção e verdade hoje me fogem, tem medo de quem me tornei. Um bêbado solitário e desalmado.
Eu queria ser um grande poeta e, no entanto fui esquecido na esquina dos menos afortunados. As minhas melodias se perderam sem serem registradas, sem terem chance de se mostrarem ao mundo - belas e gostosas de ouvir.
Vago de bar em bar, dando meu suor, cordas vocais e uns acordes antigos por alguns trocados e um copo de conhaque. Só para me entorpecer e alucinar, lembrando dos meus anos dourados.
Minha inspiração se perdeu naquele outono em Paris.
Na cidade luz seus sonhos deveriam ser transformados em realidade. Mas a realidade que me recordo é ver meu amor jogado às traças no meio daquela praça, e minha vontade de levar alegria e graça em minhas composições irem embora junto com ela. E assim iniciar meu delírio e meu alcoolismo.
Ela que se dizia enamorada por minha ousadia e gentileza, ela a quem prometi o céu e as estrelas, e algum afeto também. Ela que era minha referência e minha metade.
Ela se perdeu, assim como minhas melodias, no tempo. Guardada em um canto de minha infame e infortunada memória, escondida no meu peito vazio e gélido. Por sua causa desisti de sorrir, desisti de escrever, desisti de ser.
Desejei não existir. Caíram minhas lágrimas, assim como as folhas naquele outono. E minhas esperanças são vãs, agora que me perdi. Não me restou nada do meu antigo eu.
Há somente dor, apatia e mesmice. E meu alcoolismo habitual.
Foto por Sofia van Dijk.
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