26.12.10


Eu sou criança. E vou crescer assim. Gosto de abraçar apertado, sentir alegria inteira, inventar mundos, inventar amores. Acho graça onde não há sentido. Acho lindo o que não é. O simples me faz rir, o complicado me aborrece. O mundo pra mim é grande, não entendo como moro em um planeta que gira sem parar, nem como funciona o fax. Verdade seja dita: entender, eu entendo. Mas não faz diferença, o mundo continua rodando, existe a tal gravidade, papéis entram e saem de máquinas, existem coisas que não precisam ser explicadas. (Pelo menos para mim). O que importa é o que faz os meus olhos brilharem, o coração bater forte, o sorriso saltar da cara. Eu acho que as pessoas são sempre grandes e às vezes pequenas, igual brinquedo Playmobil. Enxergo o mundo sempre lindo e às vezes cinza, mas para isso existem o lápis-de-cor e o amor que a gente aprendeu em casa desde cedo. Lembra? Tenho um coração maior do que eu, nunca sei minha altura, tenho o tamanho de um sonho. E o sonho escreve a minha vida que às vezes eu risco, rabisco, embolo e jogo debaixo da cama (pra descansar a alma e dormir sossegada). Coragem eu tenho um monte. Mas medo eu tenho poucos. Tenho medo de filme de terror, tenho medo das pessoas, tenho medo de mim. Minha bagunça mora aqui dentro, pensamentos entram e saem, nunca sei aonde fui parar. Mas uma coisa eu digo: eu não páro. Perco o rumo, ralo o joelho, bato de frente com a cara na porta: sei aonde quero chegar, mesmo sem saber como. E vou. Sempre me pergunto quanto falta, se está perto, com que letra começa, se vai ter fim, se vai dar certo. Sempre pergunto se você está feliz, se eu estou linda, se eu vou ganhar estrelinha, se eu posso levar pra casa, se eu posso te levar pra mim, se o café ficou forte demais. Eu sou assim. Nada de meias-palavras. Já mudei, já aprendi, já fiquei de castigo, já levei ocorrência, já preguei chiclete debaixo da carteira da sala de aula, mas palavra é igual oração: tem que ser inteira senão perde a força. Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu... Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. E eu amo. Amo igual criança. Amo com os olhos vidrados, amo com todas as letras. A M O. Amo. Sem restrições. Sem medo. Sem frases cortadas. Sem censura. Sem pudor.





(autor desconhecido)

9.10.10

aperto


Sinto saudade.
Sinto saudade do teu cheiro suave e agradável, sinto saudade do teu olhar ardoroso e alegre, sinto saudade do teu abraço apertado, os braços longos envolvidos na minha cintura minúscula.
Sinto saudade dos teus beijos calorosos e doces, convidativos demais para meu fraco autocontrole. Sinto saudade do sorriso sarcástico e exagerado, e daquele na penumbra, baixo e rouco.
Sinto saudade de como eu me sinto nos seus braços. Rendida e cautelosa - para não assustar. Sinto saudade de ouvir você dizer como gosta de mim: só para si. “Você vai ser só minha” você ameaçou. E eu ansiosa e boba demais, espero atentamente o dia que você irá me raptar e fazer eu finalmente me render totalmente, deixando o meu medo infantil, de me apaixonar por você, de lado.
Sinto vontade de cumprir tudo o que prometi. De estar lá, pronta para você quando o reencontro chegar. De me jogar ao seu abraço de urso e despejar mil juras de que és meu e eu serei sempre sua.
Sinto vontade de te ter só pra mim.
Sinto vontade...
E como sinto.

28.8.10

Senhora da noite


O dia lá fora é nublado e eu não ouço passáros cantando, meu jardim há muito nao floresce, mas eu já não me importo em regar os brotos. Faço um café fraco, com dois pingos de adoçante, e assisto o jornal matinal que não noticia nada que me prenda a atenção. Escuto minhas "colegas" de casa. Algumas roncam, outras tomam banho, deixando sair pelo ralo toda a dor e a angústia, o gosto da noite passada. Me arrasto pelas escadas em direção ao meu quarto e visto a primeira camisola puída que encontro, suspiro, vou cumprir minhas tarefas domésticas.
A tarde passa lentamente e eu tenho uma pausa para assistir minha novela e penso como seria minha vida se eu fosse a mocinha rica e feliz que deveria ser. Se eu fosse eu mesma em tempo integral, se não tivesse que fingir e manipular para sobreviver. Mas eu não nasci para ser mocinha. Nasci pra ser Soraya. Sou filha de pais ricos e esnobes, mas não cresci como eles desejavam. Reneguei minha família para viver por conta própria, ou como ele pensam, para me arruinar. Essa foi minha escolha. Ser atriz.
A noite chega e antes do despertador velho tocar, avisando que o espetáculo está prestes a começar, eu me visto. Faço do espelho surrado, camarim e do vestido curto de lantejoulas, figurino. Saio de casa com minhas "amigas": é hora do show.
Nos colocamos em posição, a noite é fria e o vestido curto incomoda. A esquina não está bem iluminada. Faço uma careta de repugnância, imaginando novamente como setria se tivesse sido o que meus queridos pais planejaram. Observo uns carros passarem e outros poucos pararem para levar minhas companheiras. Eu me vejo sozinha.
Com frio, bêbada e sozinha.
Acendo um cigarro, começa o segunto ato.
Um homem alto e moreno, meu diretor, para no seu imenso 4x4 e me chama. "Dá uma volta pra eu conferir se vale o preço". Depois de convencê-lo entro no carro, não é meu primeiro dia de apresentação, mas meu coração martela na caixa toráxica.
O homem, com seus trinta e poucos anos para na primeira pousada que encontra. Vai ser a parte mais longa da noite. Ele entrega as chaves do carro para o recepcionista e me arrasta para o muquifo de três cômodos no quarto andar.
O banheiro, pequeno e mal lavado, cheira a sexo. A sala dividida tem um pequeno sofá de dois lugares e um fogão de duas bocas, ao lado do frigobar. E no centro, o meu palco, mais importante, a cama enorme e redonda. Pela aparência do homem eu sabia que ele podia ter escolhido um lugar mais luxuoso, mas não me daria essa satisfação. A minha vontade não importa. Afinal, ele nem me conhece.
A primeira metade do terceiro ato é rápida, eu tenho que ficar parada o tempo todo enquanto o meu diretor se delicia. Viro meu rosto para o lado, sentindo-o dentro de mim. Olho minhas roupas de cena no chão poeirento, junto às pontas de cigarro e à garrafa de vinho mixuruca. Tudo para não ver o prazer estampado no rosto do homem.
Chega a hora do ato final, a derradeira cena.
Equanto permaneço me contorcendo por um prazer fingido e xulo, meu diretor se veste rapidamente."Toma, vadia" ele joga meu pagamento ao meu lado. Não o vejo ir embora, as lágrimas encobrem meu rosto. Acaba o espetáculo, sem palmas. Eu adormeço e expulso as emoções para fora de mim. "Foi a minha escolha", penso. É o que eu sou, o que sempre vou ser.
Uma atriz sem consagração, sem prêmio, esperando pelas palmas, pela ovação de sua platéia.
Mas palmas não virão no fim.

21.8.10

21.08.10

Eu vejo os carros passarem
Os prédios coloridos em cinza
Vejo o céu nublado e carregado de estática
Eu vejo o suor dos andarilhos anônimos na calçada:
É meio-dia.
Tudo para. O calor sobe à cabeça
Transpiração
Eu vejo o cabelo desgrenhado da
Jovem à minha frente, ela dorme
Fecho os olhos
Ouço a s buzinas e os palavrões do estresse
Ouço uma criança chorar, “mamãe está quente”
Procuro ouvir o silêncio por mim desejado
Meus pensamentos são ofuscados pela impaciência e pelo desconforto.
Espero ter um ato inesperado
Voar por cima dos automóveis parados, pular pela janela e sair correndo,
Passando pelas árvores até alcançar o sossego
Escuto atentamente o gotejar no teto e sinto os pingos escorrendo em meu rosto.
Sorrio. Abro os olhos. Deixo a janela aberta
Sinal verde.
Paz, enfim.

31.7.10


O tempo passou, e eu mudei.
Não somente a minha aparência agora é apática, mas existe um buraco onde meu coração deveria existir. As palavras antes ditas com emoção e verdade hoje me fogem, tem medo de quem me tornei. Um bêbado solitário e desalmado.
Eu queria ser um grande poeta e, no entanto fui esquecido na esquina dos menos afortunados. As minhas melodias se perderam sem serem registradas, sem terem chance de se mostrarem ao mundo - belas e gostosas de ouvir.
Vago de bar em bar, dando meu suor, cordas vocais e uns acordes antigos por alguns trocados e um copo de conhaque. Só para me entorpecer e alucinar, lembrando dos meus anos dourados.
Minha inspiração se perdeu naquele outono em Paris.
Na cidade luz seus sonhos deveriam ser transformados em realidade. Mas a realidade que me recordo é ver meu amor jogado às traças no meio daquela praça, e minha vontade de levar alegria e graça em minhas composições irem embora junto com ela. E assim iniciar meu delírio e meu alcoolismo.
Ela que se dizia enamorada por minha ousadia e gentileza, ela a quem prometi o céu e as estrelas, e algum afeto também. Ela que era minha referência e minha metade.
Ela se perdeu, assim como minhas melodias, no tempo. Guardada em um canto de minha infame e infortunada memória, escondida no meu peito vazio e gélido. Por sua causa desisti de sorrir, desisti de escrever, desisti de ser.
Desejei não existir. Caíram minhas lágrimas, assim como as folhas naquele outono. E minhas esperanças são vãs, agora que me perdi. Não me restou nada do meu antigo eu.
Há somente dor, apatia e mesmice. E meu alcoolismo habitual.




Foto por Sofia van Dijk.

2.7.10

ai, pensamentos.

hoje eu tomei banho de banheira, com espuma e tudo, comi chocolate com batata frita no almoço, e coloquei um biquini, mesmo passando o dia todo no quarto do hotel.
hoje eu assisti ao jogo do brasil contra a holanda e vi meu irmãozinho chorar a derrota, eu fiquei sozinha jogando conversa fora pelo msn e deitada na cama sem nada pra fazer além de ler alguns blogs...
hoje eu me olhei no espelho e vi que eu já não sou a mesma de anos atrás. não porque o cabelo está mais claro e mais curto, não porque eu tenho mais espinhas que aos 14 anos, nãp porque as minhas olheiras estão mais que evidentes... mas sim, porque percebi que minha inocência perdida quer voltar, meus atos passados me revoltam e porque, justamente hoje, eu percebi o quanto tenho me preocupado com coisas fúteis e besteiras.
percebi que a pessoa em quem mais confiava, foi a primeira que me apunhalou e mentiu descaradamente. percebi quanta saudade eu tenho do abraço caloroso da minha mãe, e das sobremesas dela.
percebi que talvez eu não seja tão independente como queria, mas eu não ligo mais.
percebi que as minhas notas dependem de mim e só eu posso mudar o meu destino no final do ano.
descobri de novo o que é começar a gostar de alguém, que talvez valha a pena.
descobri que eu errei muito, mas agora o que não me falta é disposição para mudar a minha conduta.
não quero mais me importar em ter a pele mais perfeita ou os sapatos mais lindos, não quero me importar em me mudar do meu bairro, não quero me importar em ter um namorado de dar inveja, nem ao menos me enganar e pensar que ter um é o mais importante na minha vida.
quero realizar meus sonhos e entender que nem tudo é como a gente quer, mas Deus sempre faz com que seja o melhor possível.
quero é ter mais fé, mais amor, mais auto-controle, mais maturidade...
quero crescer, e quando olhar pra traz, ver que fiz um bom trabalho.