
O dia lá fora é nublado e eu não ouço passáros cantando, meu jardim há muito nao floresce, mas eu já não me importo em regar os brotos. Faço um café fraco, com dois pingos de adoçante, e assisto o jornal matinal que não noticia nada que me prenda a atenção. Escuto minhas "colegas" de casa. Algumas roncam, outras tomam banho, deixando sair pelo ralo toda a dor e a angústia, o gosto da noite passada. Me arrasto pelas escadas em direção ao meu quarto e visto a primeira camisola puída que encontro, suspiro, vou cumprir minhas tarefas domésticas.
A tarde passa lentamente e eu tenho uma pausa para assistir minha novela e penso como seria minha vida se eu fosse a mocinha rica e feliz que deveria ser. Se eu fosse eu mesma em tempo integral, se não tivesse que fingir e manipular para sobreviver. Mas eu não nasci para ser mocinha. Nasci pra ser Soraya. Sou filha de pais ricos e esnobes, mas não cresci como eles desejavam. Reneguei minha família para viver por conta própria, ou como ele pensam, para me arruinar. Essa foi minha escolha. Ser atriz.
A noite chega e antes do despertador velho tocar, avisando que o espetáculo está prestes a começar, eu me visto. Faço do espelho surrado, camarim e do vestido curto de lantejoulas, figurino. Saio de casa com minhas "amigas": é hora do show.
Nos colocamos em posição, a noite é fria e o vestido curto incomoda. A esquina não está bem iluminada. Faço uma careta de repugnância, imaginando novamente como setria se tivesse sido o que meus queridos pais planejaram. Observo uns carros passarem e outros poucos pararem para levar minhas companheiras. Eu me vejo sozinha.
Com frio, bêbada e sozinha.
Acendo um cigarro, começa o segunto ato.
Um homem alto e moreno, meu diretor, para no seu imenso 4x4 e me chama. "Dá uma volta pra eu conferir se vale o preço". Depois de convencê-lo entro no carro, não é meu primeiro dia de apresentação, mas meu coração martela na caixa toráxica.
O homem, com seus trinta e poucos anos para na primeira pousada que encontra. Vai ser a parte mais longa da noite. Ele entrega as chaves do carro para o recepcionista e me arrasta para o muquifo de três cômodos no quarto andar.
O banheiro, pequeno e mal lavado, cheira a sexo. A sala dividida tem um pequeno sofá de dois lugares e um fogão de duas bocas, ao lado do frigobar. E no centro, o meu palco, mais importante, a cama enorme e redonda. Pela aparência do homem eu sabia que ele podia ter escolhido um lugar mais luxuoso, mas não me daria essa satisfação. A minha vontade não importa. Afinal, ele nem me conhece.
A primeira metade do terceiro ato é rápida, eu tenho que ficar parada o tempo todo enquanto o meu diretor se delicia. Viro meu rosto para o lado, sentindo-o dentro de mim. Olho minhas roupas de cena no chão poeirento, junto às pontas de cigarro e à garrafa de vinho mixuruca. Tudo para não ver o prazer estampado no rosto do homem.
Chega a hora do ato final, a derradeira cena.
Equanto permaneço me contorcendo por um prazer fingido e xulo, meu diretor se veste rapidamente."Toma, vadia" ele joga meu pagamento ao meu lado. Não o vejo ir embora, as lágrimas encobrem meu rosto. Acaba o espetáculo, sem palmas. Eu adormeço e expulso as emoções para fora de mim. "Foi a minha escolha", penso. É o que eu sou, o que sempre vou ser.
Uma atriz sem consagração, sem prêmio, esperando pelas palmas, pela ovação de sua platéia.
Mas palmas não virão no fim.
A tarde passa lentamente e eu tenho uma pausa para assistir minha novela e penso como seria minha vida se eu fosse a mocinha rica e feliz que deveria ser. Se eu fosse eu mesma em tempo integral, se não tivesse que fingir e manipular para sobreviver. Mas eu não nasci para ser mocinha. Nasci pra ser Soraya. Sou filha de pais ricos e esnobes, mas não cresci como eles desejavam. Reneguei minha família para viver por conta própria, ou como ele pensam, para me arruinar. Essa foi minha escolha. Ser atriz.
A noite chega e antes do despertador velho tocar, avisando que o espetáculo está prestes a começar, eu me visto. Faço do espelho surrado, camarim e do vestido curto de lantejoulas, figurino. Saio de casa com minhas "amigas": é hora do show.
Nos colocamos em posição, a noite é fria e o vestido curto incomoda. A esquina não está bem iluminada. Faço uma careta de repugnância, imaginando novamente como setria se tivesse sido o que meus queridos pais planejaram. Observo uns carros passarem e outros poucos pararem para levar minhas companheiras. Eu me vejo sozinha.
Com frio, bêbada e sozinha.
Acendo um cigarro, começa o segunto ato.
Um homem alto e moreno, meu diretor, para no seu imenso 4x4 e me chama. "Dá uma volta pra eu conferir se vale o preço". Depois de convencê-lo entro no carro, não é meu primeiro dia de apresentação, mas meu coração martela na caixa toráxica.
O homem, com seus trinta e poucos anos para na primeira pousada que encontra. Vai ser a parte mais longa da noite. Ele entrega as chaves do carro para o recepcionista e me arrasta para o muquifo de três cômodos no quarto andar.
O banheiro, pequeno e mal lavado, cheira a sexo. A sala dividida tem um pequeno sofá de dois lugares e um fogão de duas bocas, ao lado do frigobar. E no centro, o meu palco, mais importante, a cama enorme e redonda. Pela aparência do homem eu sabia que ele podia ter escolhido um lugar mais luxuoso, mas não me daria essa satisfação. A minha vontade não importa. Afinal, ele nem me conhece.
A primeira metade do terceiro ato é rápida, eu tenho que ficar parada o tempo todo enquanto o meu diretor se delicia. Viro meu rosto para o lado, sentindo-o dentro de mim. Olho minhas roupas de cena no chão poeirento, junto às pontas de cigarro e à garrafa de vinho mixuruca. Tudo para não ver o prazer estampado no rosto do homem.
Chega a hora do ato final, a derradeira cena.
Equanto permaneço me contorcendo por um prazer fingido e xulo, meu diretor se veste rapidamente."Toma, vadia" ele joga meu pagamento ao meu lado. Não o vejo ir embora, as lágrimas encobrem meu rosto. Acaba o espetáculo, sem palmas. Eu adormeço e expulso as emoções para fora de mim. "Foi a minha escolha", penso. É o que eu sou, o que sempre vou ser.
Uma atriz sem consagração, sem prêmio, esperando pelas palmas, pela ovação de sua platéia.
Mas palmas não virão no fim.